quarta-feira, 20 de maio de 2015

Sobre Stanislavski



Seu ensinamento em Subtexto e Superobjetivo:

No momento da representação, o texto é fornecido pelo dramaturgo, e o subtexto, pelo ator.
Se assim não fosse, as pessoas não iriam ao teatro, mas ficariam em casa lendo a peça.
A escrita de uma peça não é uma obra de arte completa, enquanto não for levada à cena pelos atores e tomar vida através de emoções humanas puras e autênticas.

O subtexto é a essência interior. Mas os atores têm preguiça de desenvolver um estudo aprofundado do subtexto; preferem analisá-lo superficialmente, usando as palavras invariáveis que podem pronunciar de forma mecânica, sem despenderem nenhuma energia na busca de sua essência interior.
Como esta, infelizmente, é esquiva e difícil de aprender, sobretudo nas circunstâncias inflamadas e alienantes de uma apresentação em público, temos de recorrer à visão interior, ao pensamento e à ação interior.

A melhor forma de evitar a atuação mecânica e a tagarelice de um autômato a se dizer o texto de um papel é criar imagens pela sua imaginação ( que formam a linha de ação do personagem) . Imagens que se ajustam às necessidades do personagem que vocês estão representando.
Cada vez que repetirem o processo criador de dizer as falas de seu papel, recapitulem, com antecedência, a série de imagens preparadas na sua visão criativa (sua linha de ação).

A parte mais substancial de um subtexto está nas idéias que transmitem a linha de lógica de forma clara e definida do personagem. Uma idéia dá origem a uma segunda, a uma terceira, e todas juntas terminam por configurar um superobjetivo.
Superobjetivo = Todos os pensamentos, sentimentos e ações do ator, devem convergir para a realização de um superobjetivo. Ele é o cerne que deu impulso à peça ser escrita. Vocês não podem atingir o superobjetivo através de sua mente. O superobjetivo exige completa renúncia, desejo apaixonado e ação inequívoca. Os estímulos mais poderosos à criatividade subconsciente são a linha de ação contínua e o superobjetivo: eles são os fatores primordiais da arte.

Há ocasiões que o conteúdo intelectual de um subtexto pode predominar, outras, ficam as linhas de ação interior.
O ideal é quando ambas se fundem, então a palavra falada fica plena de ação

Temos que encontrar a melhor maneira de expressar os sentimentos abrigados nos recessos da alma do personagem.



Para experimentar, vamos fazer uma leitura hoje?

Encontre uma peça de teatro e a leia em voz alta, ou não, mas procurando a interpretação de cada fala, cada momento de cada personagem que existe nesse texto.

Dicas de peças de Teatro e livros com peças de Teatro:


" Vida de Galileu" de Berthold Brecht.
"Nossa Cidade" de Thornton Wilder.
"O Chapeuzinho Vermelho"; "Tribobó City"; "A bruxinha que era boa" de Maria Clara Machado.
"A Profissão da Sra Warren" de Bernard Shaw.
"Viúva, porém honesta" de Nelson Rodrigues.
Absolutamente qualquer coisa que esse autor escrever = Samuel Beckett.
Absolutamente qualquer coisa que esse autor escrever = Ariano Suassuna.



Qualquer dúvida, pode falar comigo por aqui. ;)


terça-feira, 19 de maio de 2015

Falaremos de um assunto delicado que é a Poesia.



"São demais os perigos desta vida
Para quem tem paixão, principalmente
Quando uma lua surge de repente
E se deixa no céu, como esquecida.

E se ao luar que atua desvairado
Vem se unir uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher.

Deve andar perto uma mulher que é feita
De música, luar e sentimento
E que a vida não quer, de tão perfeita.

Uma mulher que é como a própria Lua:
Tão linda que só espalha sofrimento
Tão cheia de pudor que vive nua."

( Rio, 1956) Vinícius de Moraes.



A poesia bem interpretada tem um grande poder de encantamento, tão grande quanto a música.  E a música já tem o poder de envolvimento maior de todas as artes, mas a poesia, ah... a poesia, dessa ninguém se livra quando falada com as emoções certas, dicções certas, e interpretações certas. E uma prova é Maria Bethânia :






Para declamar, leia. Leia muito. E com calma. Um teste é ler um poema direto, mas tem que esquecer a preguiça da leitura de uma vez por todas! Leia sempre! Quanto mais você lê, mais se vê na sua desenvoltura interpretativa. Vamos experimentar:

Leia em voz alta todo poema que cair em suas mãos. Vou colocar um contemporâneo, e aí, é só lê-lo experimentando interpretações para cada palavra e linha, leia o acima do Vinícius de Moraes também, é um poema delicioso.

"Aviso aos náufragos

Esta página, por exemplo,
não nasceu para ser lida.
Nasceu para ser pálida,
um mero plágio da Ilíada,
alguma coisa que cala,
folha que volta pro galho,
muito depois de caída.

Nasceu para ser praia,
quem sabe Andrômeda, Antártida,
Himalaia, sílaba sentida,
nasceu para ser última
a que não nasceu ainda.

Palavras trazidas de longe
pelas águas do Nilo,
um dia, esta página, papiro,
vai ter que ser traduzida,
para o símbolo, para o sânscrito,
para todos os dialetos da Índia,
vai ter que dizer bom-dia
ao que só se diz ao pé do ouvido,
vai ter que ser a brusca pedra
onde alguém deixou cair o vidro.
Não é assim a vida? "
- Toda Poesia; Paulo Leminski.

E tem uma autora, uma mulher maravilhosa que é a Gabriela Mistral. Sim! leiam em outras línguas. Todo artista têm que saber outras linguas: 

De Gabriela Mistral:

"Madre, madre, tú me besas
pero yo te beso más
y el enjambre de mis besos
no te deja ni mirar
Si la abeja se entra al lirio,
nos e siente tu aletear.
Cuando escondes a tu hijito
ni se le oye respirar
Yo te miro, yo te miro
sin cansarme de mirar,
y que lindo niño veo
a tus ojos asomar
El estanque copia todo
lo que tú mirando estás;
pero tú en las niñas tienes
a tu hijo y nada más.
Los ojitos que me diste
me los tengo que gastar
en seguirte por los valles,
por el cielo y por el mar"


Queridos, essa mulher é um acontecimento! Se dêm a chance de pesquisá-la!


terça-feira, 5 de maio de 2015

Sobre Ação, linha de ação física, Ação Interna e Ação Externa segundo Stanislavski.



Mas o que seria a linha de ação contínua?
As ações criam a vida física de um papel. Existem a ação interior, a ação exterior e essa linha de ação contínua. A ação externa não existe sem a ação interna. O que é a Ação, já está explicado na nossa fan Page, mas vamos só relembrar que, em cena, é necessário agir, externa ou internamente, e todas as ações irão te levar a um objetivo.
No teatro, tudo deve ter uma justificativa interior, que também é lógica, coerente e principalmente tem que ser verdadeira. Toda pessoa que enlouquece em cena, ou faz um escândalo, imagine na vida real: há um grande momento de emoção ali. E essas emoções vão ocorrendo, e ações vão acontecendo uma após a outra até dar o grande final da peça, ou o grande objetivo de algum personagem ser concretizado.
No filme Lisbela, meus queridos, um dos filmes que deram muito certo depois do Auto da Compadecida, vocês irão ver que não só a Lisbela mas os outros atores da trama como o Marco Nanini, que é um dos maiores gênios deste filme e da nossa tv brasileira, exercem uma linha de ação contínua primorosa. Ele tem sua trajetória de ações extremamente clara, bem feita, e bem focada. Em nenhum momento você vê esse grandessíssimo ator se desconcentrar.  Tudo neste filme é completamente bem planejado e perfeitamente executado.


No filme “Walk the line”, Johnny Cash começa o filme com um objetivo, formar a banda e ter sucesso. Ele vê a June adulta e desde a primeira vez, você vê que ele tem agora dois grandes objetivos: Ter sucesso com sua banda e ficar com a June. Assistam o filme  e todas as ações que ele faz, é para a banda (e conseqüências de ter uma banda) e para a June.


Não há ações físicas dissociadas de algum desejo, de algum esforço voltado para alguma coisa, de algum objetivo, sem que se sinta, interiormente, algo que as justifique; não há uma única situação imaginária que não contenha um certo grau de ação ou pensamento; nenhuma ação física deve ser criada sem que se acredite em sua realidade, e consequentemente, sem que haja um senso de autenticidade. Tudo isso afeta a estreita ligação entre a ação física e todos os estados emocionais que chamamos também de estado interior de criação.

Então, a linha de ação contínua é absolutamente, todas as ações do personagem até ele conseguir o que ele quer no final da peça de teatro. E eu preciso acreditar nas ações como ator, que é isso que vai tornar o final tão importante para você e para o espectador que é a pessoa que te assiste no Teatro.