quarta-feira, 20 de abril de 2016


O Teatro no Japão



"É a poesia que movimenta sem esforço o céu e a terra, e desperta a compaixão dos deuses e demônios invisíveis, e é na dança que a poesia assume forma visível". Essa é a introdução da primeira coletânea japonesa de poemas "Kokinshu" em 922. 

O teatro japonês pode ser descrito como uma celebração solene, estritamente formalizada, de emoções e sentimentos, indo da invocação pantomímica dos poderes da natureza às mais sutis diferenciações da forma dramática aristocrática. 

Sua mola propulsora está no poder sugestivo do movimento, do gesto e da palavra falada. Dentro desses meios de expressão, os japoneses desenvolveram uma arte teatral tão original e única que desafia comparações, pois qualquer comparação será invariavelmente relevante para um só de seus aspectos.

No universo insular do Japão, como em qualquer outro lugar, o teatro começou com os deuses, com o conflito dos poderes sobrenaturais. Os dois grandes mitos das divindades do mar e do sol contêm não apenas o germe da dança sagrada primitiva do Japão, mas os primeiros elementos da transformação dramática, que é a essência da forma teatral. 

As duas mais antigas crônicas japonesas, Kojiki e Nihongi, foram ambas escritas em ideogramas chineses no início do século VIII para a corte imperial japonesa. Relatam as representações pantomímicas dos dois mitos que nos dias de hoje são uma fonte importante para as danças da Ásia Oriental. Sobrevivem no Vietnã, Camboja e Laos, na Tailândia, Asam, Birmânia (Mianmar) e no sul da China.

O primeiro desses mitos baseia-se no culto ao sol e relata a história da deusa do Sol, Amaterasu. Após uma briga com seu irmão, Amaterasu esconde-se numa caverna, inacessível a qualquer súplica. O céu e a terra ficam imersos em uma escuridão noturna - uma ocorrência histórica de um eclipse solar. As oitocentas miríades de deuses do panteão japonês concordam em atrair a deusa zangada para fora de seu esconderijo por meio de uma dança.  
A deusa virgem Ama no Uzume desperta a curiosidade da deusa do sol. Amaterasu caminha para fora da caverna e, num espelho que os deuses seguram para ela, vê sua própria imagem radiante refletida. Os galos cantam. A luz volta ao mundo.
O significado mitológico da dança de Uzume, que provoca o retorno do sol, sobrevive até hoje no costume de executar as peças "Kagura" durante toda a noite até a aurora, até o primeiro canto do galo.